Algumas coisas só têm razão de ser se forem por inteiro. Não vale qualquer parte por si, só o todo. E se o mundo vira de cabeça para baixo e uma tragédia impede a existência de uma dessas partes, é no mínimo justo, e na medida do possível benéfico, que nos momentos mais importantes também falte a outra parte. Daí que o Liverpool confirmar o título inglês em 2020 e sem estar em campo dar fim a uma seca de trinta anos foi a melhor coisa que poderia ter acontecido.
Que bom que não teve jogo sem “You’ll Never Walk Alone”.
Afinal, o que seria da substituição que muda tudo no intervalo, da defesa milagrosa
ou do gol do título sem os milhares de olhos que já não enxergam, traduzindo em
lágrimas uma emoção inexplicável, para muitos desconhecida? O que seria da
vitória derradeira sem os jogadores lutando para manter a concentração, sabendo
que só acaba quando termina, enquanto a massa canta antes do apito final que já
“É campeão!”? Que capitão quer levantar uma taça sem os seus – todos os seus? A
explosão só acontece com todos os elementos. A combinação é fundamental.
Se o futebol, em situações extremas, pode até acontecer sem
torcida no estádio, a festa de um título, não. Sem jogo, é como se Klopp, os jogadores
e o restante do clube pudessem dizer aos torcedores: “Vocês não estavam lá, mas
tudo bem, nós também não!” E se ninguém estava lá, estavam todos: os próximos,
os distantes, os noventa e seis e os outros tantos que já não poderiam estar.
Todos lá.
E afinal, onde é “lá”? Onde foi o primeiro título de Premier
League do Liverpool, campeão da Inglaterra depois de trinta anos? Em lugar
nenhum, e em todos os lugares. Não aconteceu no espaço, aconteceu no tempo. Sem
os sorrisos extasiados nas arquibancadas ou o suor realizado dos profissionais,
o campeão é o Liverpool – a entidade, o espírito, o intangível, o Liverpool
imaterial. Nunca o título de um clube foi tão de todos, absolutamente todos que
o fazem ser o que é.
No fim das contas, mais por inteiro, impossível.
Tyler Bazz
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